Atentados em escolas são eventos chocantes para a sociedade, especialmente por ocorrerem em um espaço considerado seguro pelas famílias. Deixar uma criança em uma escola é considerado por alguns pais até mais seguro que deixar na casa de um familiar, o que mostra a confiança das famílias nessa instituição. No entanto os ataques acontecem e diversas soluções são colocadas em pauta.
Gostaria de declarar que sou a favor de medidas de curto prazo para redução das violências, porém alerto que elas só causam um processo de adaptação a esses ataques e não de mitigação, ou seja, são medidas que visam proteger os alunos no caso de um ataque que já esteja planejado, e estou me referindo aqui sobre a contratação de seguranças nas portarias, detector de metais e mais câmeras. Essas medidas de curto prazo não causam nenhum mal na minha humilde opinião (exceto mais custos para o estado e pais) mas também estão longe de resolver o problema. Portanto, soluções de médio e longo prazo que tratam da prevenção e melhora da saúde emocional da nossa população devem ser debatidas e investimentos importantes precisam ser realizados.
A justiça restaurativa é uma dessas soluções de médio e longo prazo, e o melhor, com um custo baixo comparado com outras soluções. A violência nas escolas é um problema que afeta não apenas os estudantes, mas também a comunidade em geral. A abordagem tradicional para combater esse problema tem sido punir os alunos que transgridem as regras, mas essa abordagem tem se mostrado ineficaz. A justiça restaurativa é uma alternativa que tem ganhado destaque em todo o mundo, especialmente nas escolas, como forma de lidar com a violência e garantir o direito de viver sonhar dos alunos em um ambiente seguro e saudável.
A justiça restaurativa é um processo que visa reparar o dano causado por um conflito, em vez de simplesmente punir o transgressor. Ele se concentra em trazer todos os envolvidos no conflito para discutir o que aconteceu e como o dano pode ser reparado. Isso pode envolver pedir desculpas, compensar as vítimas e encontrar soluções para evitar que o conflito ocorra novamente.
Quando aplicada nas escolas, a justiça restaurativa pode ajudar a combater a violência, criando um ambiente em que os alunos se sintam mais seguros e respeitados. Os estudantes são encorajados a se comunicar abertamente e a tomar medidas para reparar o dano causado, o que pode ajudá-los a desenvolver habilidades de resolução de conflitos e empatia. Como professor, vivo momentos de extremos dentro de salas de aula, e por vezes é mais simples ignorar um problema ou punir um agressor, do que criar um momento de reflexão e discussão sobre o tema bullying por exemplo. As técnicas de justiça restaurativas se baseiam na criação de empatia entre as partes envolvidas, tentando resolver as reais causas por detrás de atos de violência.
Um desafio para a implementação da justiça restaurativa é incumbir mais uma responsabilidade ao professor, o que nesse caso não é necessário. Muitas vezes o professor faz parte do conflito e deve ser inserido inclusive no processo de justiça restaurativa. Há uma exemplo interessante na cidade de Santos, litoral do estado de São Paulo. A secretaria de educação do município criou um núcleo de justiça restaurativa aonde além de divulgar e treinar professores sobre o tema, esse núcleo com profissionais capacitados realiza círculos de justiça restaurativa nas escolas, e o mais importante desses círculos é que eles não se fazem só com alunos e professores, mas também com pais e toda comunidade escolar.
Como criar um projeto de justiça restaurativa?
Criar um projeto de justiça restaurativa em uma escola pode ser um processo desafiador, mas também muito gratificante. Aqui estão alguns passos importantes a serem considerados:
1-Envolver a comunidade escolar: antes de iniciar o projeto, é importante envolver todos os membros da comunidade escolar, incluindo alunos, pais, professores, funcionários e a administração. Realize reuniões ou fóruns para discutir os objetivos e expectativas do projeto e garantir que todos estejam alinhados.
2-Treinar a equipe: para implementar com sucesso a justiça restaurativa na escola, a equipe precisa estar treinada. Considere fornecer treinamento para professores, conselheiros escolares e outros membros da equipe para que eles possam conduzir reuniões restaurativas e apoiar os alunos.
3-Estabelecer diretrizes e procedimentos: desenvolva diretrizes claras para a implementação do projeto, incluindo procedimentos para lidar com conflitos e situações desafiadoras. Certifique-se de que todas as diretrizes sejam comunicadas claramente a toda a comunidade escolar.
4- Identificar um coordenador do projeto: é importante nomear um coordenador do projeto para supervisionar a implementação da justiça restaurativa na escola e garantir que o projeto esteja funcionando corretamente.
5- Implementar práticas restaurativas: com as diretrizes estabelecidas e a equipe treinada, comece a implementar práticas restaurativas, como círculos restaurativos, mediação e conferências restaurativas. Comece com pequenas práticas e vá expandindo gradualmente.
6- Avaliar o projeto: monitore regularmente o progresso do projeto e avalie seu impacto. Coletar feedback de alunos, professores e outros membros da comunidade escolar pode ajudar a identificar áreas de melhoria e ajustar o projeto conforme necessário.
Ao criar um projeto de justiça restaurativa em uma escola, é importante ter paciência e perseverança. Embora possa levar tempo e esforço para implementar o projeto com sucesso, o resultado final pode ser transformador para a comunidade escolar.
A justiça restaurativa também ajuda a garantir o direito de sonhar dos alunos, permitindo que eles se concentrem em sua educação e futuro, em vez de viverem com medo ou preocupados com conflitos passados. Ao criar um ambiente seguro e respeitoso na escola, os alunos são mais propensos a ter sucesso acadêmico e a desenvolver habilidades essenciais para a vida.
A Organização Fábrica dos Sonhos possui cursos e uma consultoria especializada para sua escola caso deseje apoio para iniciar um projeto de justiça restaurativa em sua escola. Conheça nossos projetos, visite nosso site e apoie essa causa!
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Texto: Herbert Santo de Lima
Herbert, mais conhecido como Herbie, é professor, biólogo, mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela London School of Economics (LSE), especialista em sustentabilidade, jogos cooperativos e cultura de paz, e sonha em plantar seu próprio alimento.
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